domingo, 26 de fevereiro de 2012

Aquela saudade que não tem nome. Que na verdade é uma vontade de viver de novo, mas infelizmente não há como. É o andar de tênis, jeans, camiseta e mochila. E sentir-se bem e bem normal. Comum, até. Como dançar em frente ao espelho era tão fácil e revigorante. Um micro-system. O som do Bush. Alto, muito alto. Trancar a porta do quarto. A revolta sem limites e sem necessidade. Motivos, muitos. Sonhos... O que você foi quando cresceu tem a ver com tudo aquilo (pergunta e afirmação, ao mesmo tempo). Oasis fazia sentido. O Raimundos existia. Cabelo molhado sem entregar nada, nada obsceno. Mas quanto desejo. Fome da carne e de viver. Chorar no travesseiro pelo não retribuído. O amor platônico. Os professores. Quem nunca¿ Andar de mãos dadas com as amigas. O telefone sem fio. “Pendurar”, como mamãe dizia. Chamada a três, oras. Lápis preto, olhos fortes e intensos olhares. Com que roupa você foi¿ As piadas internas. Os cochichos, tantos segredos, tanta confiança e confidências. Até hoje você guarda um segredo. Eu guardo. Era possível e permitido errar. Era tudo que tínhamos que fazer: errar. Era tempo de escolhas e, ainda assim, dava para errar. Você andava mais do que anda hoje. Gastava muito menos dinheiro do que faz hoje. Tinha sua liberdade controlada. Saudades do que¿ Possivelmente seus sonhos faziam sentido. Você passou vergonha com os seus pais. E por muitas vezes se perguntou por onde andavam os amigos deles. E se era mesmo tão difícil trabalhar e pagar contas. Parecia melhor que o simulado aos sábados... Afinal, eles escolheram ser aquilo quando crescessem. Não é¿ A alegria de descobrir o amor. O primeiro beijo. Achar que é pra sempre. Mesmo. As cartas. As declarações. É não conhecer, não fazer ideia. Não saber o que vem depois. É dançar e tudo fazer sentido. É conectar a alma com o que há de mais honesto e sincero no universo. É se entregar com intensidade. Levar tombos e levantar como se nada houvesse. Comprar aquele cd. Aquela calça da moda. Ganhar um urso. A primeira viagem com os amigos. Fotos, fotos e mais fotos. Sem carão. Ter opinião e personalidade. Unhas café. Assim como as de hoje. O que mudou¿ Muito do que era sonho hoje é real. É fantástico, tem muito valor. Mas é só isso, aquilo que dá lá no fundo do peito, um aperto... Vontade louca de viver um minutinho daquilo tudo novamente. A festa barata. A pele de seda e os cabelos viçosos. Os lábios macios e a boca que transmitia a mocidade. A total ignorância em muitos quesitos (e não é por isso que muitos por aí ainda sorriem¿). Mas não dá pra ser. Tudo está bom, nada a reclamar. Mas faz falta não ter que estar sempre alerta 24h. Ou viver para ver coisas cruéis e ter que lidar com elas todos os dias. Gerir. Digerir. E sobreviver. Mas, infelizmente, sem aquela certeza absoluta de que tudo vai dar certo.