quinta-feira, 5 de março de 2009

O indo e vindo infinito

Hoje, ao receber a notícia que o meu primeiro namorado (meu primeiro amor, pra ser sincera) vai ser pai, parei.
Parei porque não entendia qual era a parte dessa história toda da vida que eu havia “perdido”. Qual foi o exato momento, quando e onde, tudo resolveu mudar, mexer com todos os nossos paradigmas e aproximar esta fatídica verdade, antes tão ilusória e utópica.
Cresci. Sim, cresceram os números de Carnavais, viagens de fim de ano, personagens, histórias, aniversários. Sim, passamos por transições importantes como a entrada na Universidade, a formatura e até por muitos casamentos. Contudo, por que será então que somente quando há um anúncio de paternidade/maternidade é que paramos pra pensar que “sim, crescemos”?
Durante nossa fase de crescimento (Veja que a expressão já denota um período. Por que será – novamente – que não acostumamos com esta idéia desde o tempo da escola?), vivemos e experimentamos diversas sensações. A amizade de infância, os primeiros prazeres, a paixão, a ira, a revolta, a dor...
Algumas histórias, de tão fortes e intensas, simplesmente viram lendas. O jogo de vôlei com rede improvisada no quintal da Vovó Maria; as apresentações de teatro e coreografias de Xuxa (e posteriormente Madonna!); as balas Chita; as tardes no clube Araraquarense e a briga das primas pra revezar “quem segura a mochila?”; os bilhetes “apaichonados” dos paqueras da quarta série; a coleção de insetos...
Minha memória sempre me presenteia com bons momentos e lembranças. Recordações boas, em sua maioria.
Foi com uma calça da Zoomp preta e com uma blusa de ursinho (que a Bila tinha igual, compramos no Guarujá juntas!) que eu vivi meu primeiro beijo. Eu era apaixonada pelo Rafa. Ele passava pelo corredor, jogava seu cabelo pra trás, ahhh, era o máximo!
Depois de muitas danças da vassoura, muitas trocas de beijo por micro system (Raquel trocava um beijo meu com seu irmão pelo rádio, pasmem), IRCs e ICQs da vida, ‘brincadeiras’ de turma de prédio, festas de peão e micaretas, declarações de amor, términos, voltas, brigas, ufa! De fato, há que haver um momento de amadurecimento em tudo isso.
Então a parte com a qual sonhamos da vida, passou. Somos profissionais bem sucedidos ou tentamos sê-lo; viajamos por lugares com os quais sonhamos; dirigimos um carro repleto de amigos descendo a serra; temos certa ou total independência financeira e, inclusive, já construímos algumas dívidas; já passou o mestrado e a pós...
Eis que a pergunta “O que eu quero ser quando crescer?” paira por alguns momentos. É quando temos que optar por uma mudança de emprego, por um aceite de algo que envolva o tal “crescer”.
Uma proposta de casamento, de vida a dois. E, seguindo o que aprendemos desde sempre, na sequência, vem um filho. Mas no sonho, no sonho mesmo, pára por aí.
Apesar de sonharmos em “envelhecer juntinho”, ninguém, NINGUÉM sonha com a troca de fraldas, com o dinheiro da poupança, com a aposentadoria. Estes são planos que fazemos quando tudo já está definido (que me permitam os lunáticos da organização e do planejamento, mas as pessoas comuns “dançam conforme a música”).
Pois, se pára por aí, é normal que nos espantemos com o absurdo do desconhecido. Dúvidas como “fiz a escolha certa?”, “era isso mesmo que eu queria pra minha vida?”, “e se eu me arrepender mais tarde?”, chegam e atormentam os pensamentos dos... (Pausa. O cursor já apagou dezenas de supostos adjetivos que escrevi para definir esta fase. Trintões? Não, nem pensar, tenho 27. Jovens? Não, se o tema é crescimento, ô palavra mais insensata; Adultos? Não, simplesmente não posso aceitar ainda; Nada? Sim, por enquanto e talvez até o final deste texto (ou deste ano, risos) será designado como NADA aquele que não tem definido seu papel comportamental nesta sociedade).
Eu, como NADA que sou, trabalho muito para conseguir conquistar algumas das pecinhas citadas acima. Sonhos são diversos e singulares, subjetivos. Mas muitos dos NADA têm lá as suas afinidades. Todos querem ser felizes. Mas, como diria Vinicius de Moraes “Melhor viver do que ser feliz”. Base de raciocínio boa para evitar que as inevitáveis “pedras no caminho” façam o brilho de nossos ideais se ofuscarem.
Ao ouvir hoje a tal notícia, a do filho do ex-namorado (hoje um irmão, grande amigo), fez pensar – e em questão de segundos – em todas as pecinhas do meu Jogo da Vida. Neste grande ‘War’ que virou a vida dos NADA. Uma montanha-russa sem freio. Um indo e vindo infinito.
E já que a vida vem em ondas como o mar, haveria melhor momento que o Verão para descobrir que, depois de um grandioso e maravilhoso sonho, vem chegando a vida, aquela que não conhecemos, aquela que é de verdade?
Camila A.L. de Angeli

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